terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Zumbi

Zumbi


Com as invasões holandesas (1624-1630), as fazendas e engenhos do Nordeste sofrem uma certa desorganização temporária, dada a atenção desviada dos senhores e governantes para a expulsão dos invasores, diminuindo por certo período, em conseqüências desse fato, a rigidez exercidas até então sobre o escravo.

Sedento para livrar-se do sofrimento, e aproveitando-se do incidente das invasões holandesas, os negros vêem chegar a grande possibilidade da fuga, escapulindo em massa para matas e agrestes nordestinos, formando os quilombos, sendo o Quilombo dos Palmares um dos mais importantes, sede maior de todos os outros redutos de negros fugitivos.

Líder dos revoltosos no Quilombo dos Palmares, Zumbi, ainda hoje, é símbolo de liberdade para os negros brasileiros e para os amantes dos ideais de justiça e igualdade social. Desse grande guerreiro, herdamos o respeito pela determinação, coragem e dignidade da raça negra. Descendente dos guerreiros imbangalas ou jagas, de Angola, Zumbi nasceu provavelmente em 1655, em um dos mocambos do quilombo.

Com poucos dias de vida foi aprisionado pela expedição de Brás da Rocha Cardoso e dado ao padre Antônio Melo em Porto Calvo. O padre criou o menino, batizando-o como Francisco. Com a educação recebida, aos 10 anos já sabia latim e português e aos 12 anos era coroinha. Em uma carta, o padre refere-se ao menino como dono de um “engenho jamais imaginado na sua raça e que bem poucas vezes encontrara em brancos.”
Aos quinze anos, o jovem Francisco, à procura de liberdade, foge das garras do padre Melo e retorna ao quilombo onde nasceu. Em Palmares, Francisco, o escravo foragido, recebe o nome de Zumbi e uma grande missão: defender o quilombo. Zumbi se aperfeiçoa nas chamadas lutas negras e em estratégias de ataque e defesa, conquistando a admiração e o respeito de todos no quilombo.

Os quilombos eram construídos por mocambos, grupamentos de choupanas que possuíam seu próprio líder. Pela sua descendência e valentia, Zumbi logo se torna líder de mocambo. Com um filho assassinado e outros dois aprisionados, Ganga Zumba, em 1678, o rei de Palmares faz um acordo de paz com os portugueses. Mas Zumbi não concorda com isso. Juntamente com seu irmão Andalaquituche, Zumbi se propõe a libertar todos os escravos, acolhendo os fugitivos de Ganga Zumba em seu mocambo.

Ganga Zumba morre envenenado e Zumbi torna-se o novo rei do quilombo de Palmares. Depois de constantes derrotas, até os brancos passam a respeitar Zumbi, chamando-o de capitão. Em 1694, foi atacado pelas tropas lideradas por Domingos Jorge Velho. Nesse episódio, caiu em um desfiladeiro, baleado duplamente. Essa queda favoreceu a criação do mito do herói que se suicidou para evitar a reescravização. Entretanto, em 1695, Zumbi voltou a atacar povoados em Pernambuco, mostrando que não havia morrido.

Traído por um de seus principais comandantes, Antônio Soares, que trocou sua liberdade pela revelação do esconderijo de Zumbi, o qual foi morto em 20 de novembro de 1695 (Dia da Consciência Negra). A cabeça de Zumbi foi decepada e levada para Recife e pendurada em local público até a total decomposição. O Quilombo dos Palmares foi destruído tendo sido o berço da Capoeira e foi o quilombo que reuniu o maior número de pessoas, cerca de 25 mil. Zumbi morre, mas seu exemplo permanece vivo, tornando-o símbolo da luta pela emancipação da raça negra.

MESTRE WALDEMAR DA PAIXÃO

MESTRE WALDEMAR DA PAIXÃO

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Na vadiação,
a capoeira se juntou com o berimbau

P'ra festejar a aliança
DA PAIXÃO, Waldemar
pintou o arco musical

(ah! essa negra mania baiana
de tudo enfeitar
de tudo misturar)!

de repente, assim:
a cor e o som
cabaça
em suas mãos

Odora!

O berimbau se transformou
no arco-íris musical.

Texto: Fred Abreu



Mestre Waldemar. Da Paixão, da Liberdade, da Avenida Peixe, capoeirista conhecido pelos seus berimbaus coloridos e por sua voz inconfundível. Iniciou na capoeira com 20 anos de idade, em 1936, foi aluno de Canário Pardo, Periperi, Talabi, Siri de Mangue e Ricardo de Ilha de Maré. Começou a ensinar capoeira em 1940, na Estrada da Liberdade, no inicio era ao ar livre e depois passou para um barracão de palha que ele mesmo construiu. O local virou ponto de encontro dos capoeiristas baianos, e aos poucos a roda de mestre Waldemar foi se tornando muito famosa e todos os capoeiristas da Bahia iam lá jogar. No livro Bahia: imagens da terra e do povo, publicado em 1964, Odorico Tavares assim descreve uma roda de Waldemar no Domingo a tarde, no Corta Braço, na Estrada das Boiadas, destacando a qualidade do mestre como cantador: "Com os tocadores ao seu lado o mestre levanta a voz, iniciando o canto. Os jogadores, em número de dois, estão de cócoras, à sua frente. É lenta a toada que o mestre canta , como solista e já os capoeiristas acompanham-no em movimentos mais lentos ainda, como cobras que começam a mover-se: olhe o visitante atentamente, como aqueles homens nem ossos tivessem, seus membros parecem que recebem um impulso quase insensível, de dentro para fora.(...) Os homens não se tocam para defesa e ataques que se sucedem em imprevistos de segundos. Ë um milagres em que a violência de um ataque resulte em outro ataque, em que ninguém se toca, ninguém se fere, ninguém se agride. É combate, é baile que dura horas."(p. 177-178)

Mestre Waldemar sempre procurou um bom convívio com todos os capoeiristas recebendo todos em seu barracão com muito respeito e também sendo muito respeitado. O seu reconhecimento com mestre evitava conflitos provocados pelos chamados 'valentões'. Sobre esses conflitos Waldemar nos conta: "Barulho eu nunca tive com ninguém, porque eu sempre fui respeitado, nunca ninguém me desafiou. Se me desafiava para jogar, mestre que aparecia aqui, a minha cabeça resolvia.(...) Me respeitavam muito os meus alunos. E não tinha barulho, porque eu olhava para eles assim, eles vinha pro pé de mim e ninguém brigava."

O canto e o toque de berimbau não eram suas única habilidades o mestre também era um exímio jogador de capoeira. Ele relembra: "Quando eu jogava, eu dizia: toque uma angola dobrada. É um por dentro do outro, passando, armando tesoura, se arriando todo. Parece que eu tô vendo eu jogar. Eu joguei muito.(...) Eu gostava de jogar lento, pra saber o que faço. Pelo meu canto você tira. Eu canto pra qualquer um menino desse jogar, e ele jogo sem defeito. Para os meus alunos eu digo que vou cantar e eles já sabem o que eu quero: são bento pequeno. É o primeiro toque meu. Para o outro tocador eu digo : 'de cima para baixo', e ele sabe que é são bento grande. Para viola eu digo: 'repique', e ele bota a viola pra chorar."

Mestre Waldemar conta que no seu tempo, e nas suas aulas a capoeira era ensinada na roda, mas que também havia os dias de treino. "Eles jogavam e eu fazia sinal pra fazer tesoura, fazia sinal pra chibatear, fazia sinal pro outro abaixar. "



BIBLIOGRAFIA:

Revista Capoeira - Autor: Luís Renato

Estudo Sobre os Toques do Berimbau

O berimbau é um instrumento que foi adotado pelos capoeiristas como o principal regente da orquestra da capoeira. Antigamente o atabaque era quem ditava o ritmo.
Estamos pesquisando os toques abaixo relacionados procurando associá-los ao jogo correspondente conforme descrição de Mestres, através de literaturas aqui citadas, (ver bibliografia) bem como através de entrevistas.





ANGOLA- Toque lento e cadenciado. Serve para jogo rente ao chão, lento e malicioso (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 03).

BANGUELA- Jogo de dentro com faca - segundo Carybé em citação de Nestor Capoeira no livro: Os fundamentos da Malícia, ed. Record, pág. 119.

SÃO BENTO PEQUENO - Também chamado de "ANGOLA INVERTIDA" - Toque para um jogo amistoso, muito técnico (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 04).

SÃO BENTO GRANDE DE ANGOLA -

SANTA MARIA -

APANHA LARANJA NO CHÃO TICO-TICO - toque para o jogo de apresentação em que os capoeiristas apanham dinheiro no chão com a boca (Revista Praticando Capoeira, ano I - n º 02, pág. 07).

AVISO - Toque para denunciar a presença do senhor de engenho, capitão do mato ou capataz (Revista Praticando Capoeira, ano I - n º. 02, pág. 07). Segundo dizem os capoeiristas mais antigos, servia para avisar aos escravos da presença do feitor ou capitão-do-mato (Mestre Bola Sete, em: Capoeira Angola na Bahia, pág. 66, ed. Pallas, RJ, 1997).

CAVALARIA - toque que imita o trotar do cavalo, avisando que há polícia nas proximidades. Esse toque foi criado por volta de 1920 para avisar a chegada da cavalaria de "Pedrito", um temido delegado de polícia que perseguia os capoeiristas (Revista Praticando Capoeira, ano I - n º 02, pág. 07). Antigamente servia para avisar aos capoeiristas, da presença da Cavalaria da Guarda Nacional (Mestre Bola Sete, em: Capoeira Angola na Bahia, pág. 66, ed. Pallas, RJ, 1997).



Capoeira Regional


Os toques de Regional inicialmente eram acompanhados por uma bateria inconstante que se apresentava de acordo com a decisão do Mestre Bimba, podendo conter um, dois ou três berimbaus. Tempos depois por sugestão de Decânio, a charanga resumiu-se a um berimbau e dois pandeiros.

AMAZONAS - criação de Bimba, era dificílimo de acompanhar tal a riqueza de ritmos, a sutileza das variações melódicas; poucos capoeiristas conseguiam obedecer aos seus comandos, mais raros ainda os que conseguiam executá-lo no berimbau.

Amazonas é um toque festivo para saudar mestres e visitantes. É chamado de hino da capoeira (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 05).

BANGUELINHA - Jogo de dentro, colado, corpo a corpo, treinamento para defesa de arma branca.

BANGUELA - Jogo de dentro, colado, corpo a corpo, treinamento para defesa de arma branca.

Benguela - Toque para jogo compassado, curtido, malicioso e floreado (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 05).

CAVALARIA - Jogo duro, pesado, violento.

IDALINA - jogo alto, solto, manhoso, rico em movimentos.

Idalina - Apresentação de jogo com facas, facões, porretes (Revista Universo Capoeira, ano I, n.º 03, agosto/99).

Idalina - Toque para jogo de navalha (Revista Praticando Capoeira, ano I, n.º 03).

IÚNA -Jogo baixo, manhoso, sagaz, ardiloso, coreográfico, exibicionista; retorno ao estado lúdico.

Iúna - Só para formados e mestres com movimentos de balões (Revista Universo Capoeira, ano n.º 03, agosto/99).

SANTA MARIA - Toque simples, porém rápido; permite jogo solto e alto aceitando bastante floreio.

Santa Maria - Jogo com navalhas (Revista Universo Capoeira, ano n.º 03, agosto/99).

SÃO BENTO GRANDE DE REGIONAL - Jogo ao estilo regional: forte, rápido, mais para violência que para exibicionismo; viril sem perder a malícia.

SÃO BENTO PEQUENO DE REGIONAL - São Bento Grande às avessas; um jogo mais suave, corpo a corpo, aceitando mais deslocamentos e malícia.

NOTA: As explicações feitas aqui, dos toques que estão SUBLINHADOS e em ITÁLICO, referentes a Capoeira Regional foram retiradas do livro de Ângelo Decânio: A Herança de Mestre Bimba, págs. 183 e 184.