quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A capoeira e os portadores de necessidades especiais

Por: Marcio Rodrigues dos Santos



Não me lembro bem quando comecei a me preocupar com essa “população especial”, só sei que em 1997, me inscrevi em um curso do Fitness Brasil daquele ano, no SESC Santos, denominado “Lazer e Recreação para Portadores de Necessidades Especiais”, Ministrado pelo Mestre em distúrbio do Movimento, professor de Educação Física e Psicopedagogo “Pérsio Luiz de Almeida”, vulgo “Negão”, tem esse apelido por trabalhar com deficientes auditivos que tinham dificuldade de pronunciar seu nome, e tornou-se um apelido fácil e cativante.



Naquela ocasião, o palestrante abordou várias maneiras motivantes de desenvolver um trabalho com esse tal público especial, de como deve ser a estratégia de tratamento e cuidados com vários tipos de deficiências, e seus comprometimentos, num segundo momento do curso, Professor Pérsio solicitou aos participantes que organizassem uma atividade com seu cotidiano em relação aos portadores de necessidades especiais. Naquele ano já lecionava em algumas escolas particulares, além do Grupo Amigo do Lar Pobre, e treinava a prática da capoeira ainda com o Contra-Mestre Fabião, no próprio SESC, por ser um dos alunos mais adiantados, e já ter ministrado algumas aulas, tinha fácil acesso aos Instrumentos musicais, foi aí que veio a idéia de realizar uma dinâmica com a capoeira e o deficiente visual, arrumei uma venda, armei um berimbau, chamei um dos participantes do curso, e através de explicações da postura corporal para a perfeita execução dos movimentos, solicitei à colega que se se movimenta em relação ao ritmo em que desenvolvia com a tonalidade do berimbau, em alguns momentos tocava o ritmo de Angola, com uma cadência mais lenta, e em outros momentos tocava “São Bento Grande, com uma cadência mais acelerada. Foi muito interessante, pois se percebia a facilidade para o ritmo, porém a dificuldade com a noção espacial, principalmente por se tratar de uma pessoa que não têm esse comprometimento, e de”. Repente se ver com essa dificuldade sem mais nem menos, e sendo assim, esse seria um dos objetivos específicos na prática da atividade.



“Mestre Pérsio”, me questionou se por um acaso se outros deficientes, no caso específico dos “paraplégicos poderiam participar, no momento respondi rápido que sim, através dos instrumentos musicais, que era uma vantagem da capoeira, o questionamento persistiu, e fui perguntado sobre a parte física, se haveria possibilidade, parei, pensei e respondi: - Acredito que cada lesão tem o seu nível de comprometimento, e deve ser estudado em conjunto com profissionais mais especializados, mas podemos adaptar em prol dos benefícios corporais que a capoeira pode oferecer”.



Aquele momento foi mágico, o cadeirante Luciano Marques, hoje presidente da ADIFISA (Ass. dos Deficientes Físicos de Santos), se jogou no chão e começamos a se movimentar nas palmas que todos do recinto iniciaram, e definitivamente “trocamos energia!”.



E isso que foi mais interessante, eu saí feliz por oferecer ao meu semelhante um estímulo para sua auto-estima, e a partir dali iniciei um Projeto com esse público especial, hoje atendo cerca de cem educandos, no Núcleo de Atendimento ao Portador de Necessidades Especiais, e na nossa Associação “Capoeira Escola”, é visível seus valores humanos bem desenvolvidos como a Humildade, Simplicidade, Amizade, e Amor, virtudes que não encontramos em nossa sociedade. Hoje contribuímos para sua auto-estima, e principalmente para a reorganização neurológica desses educandos.

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